02/05/2012

O Fim da História! Os novos movimentos sociais

Em 1989 caiu o Muro de Berlim. Em 1991 dissolveu-se a ex-União Soviética. Estes acontecimentos são geralmente os marcos do fim da Guerra Fria, tempo de luta aberta entre duas super-potências (EUA e URSS), representando regimes económicos antagónicos (capitalismo e socialismo) e sistemas políticos opostos (democracia representativa pluripartidária versus ditadura do proletariado).
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Cold_War_Map_1980.svg O Mundo era fácil de entender nesta perspectiva dualista de duas super-potências que repartiam entre si o Mundo em esferas de influência para evitarem o confronto directo que significaria o fim da Humanidade, pois qualquer delas dispunha de arsenal nuclear suficiente para destruir o Planeta várias vezes, num equilíbrio de terror que evitou que se passasse à guerra a quente.

Francis Fukuyama defende que com a queda do comunismo, a história chegou ao fim, na medida em que não podemos antever nenhuma forma de sociedade que possa suplantar o capitalismo ocidental (Giddens, 2001, p. 703).

Karl Marx estava certo quando afirmou que “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem...”, pois contrariamente às suas previsões não surgiram por todo o Mundo "ditaduras do proletariado constituindo-se na transição para atingir uma sociedade sem classes". Os ideais comunistas são muito estimáveis, e fazem-nos sonhar com justiça: "De cada um, de acordo com suas habilidades, a cada um, de acordo com suas necessidades". Porém, as concretizações históricas destes ideais deixaram as populações muito aquém do esperado, e quando com o desenvolvimento das comunicações podiam observar nas TV’s o maior bem-estar das sociedades capitalistas, não haviam dúvidas, “Os trabalhadores não tinham nada a perder com a revolução capitalista ("comunista" no texto de Marx), a não ser suas correntes”.
http://pt.wikiquote.org/wiki/Karl_Marx

    Tal como explicou Alain Touraine, a noção de movimento social implica o objectivo de transformação das relações sociais de dominação, e não apenas a modificação do sistema de decisão (caso em que se deve apenas falar de lutas) ou tão-só a sua rectificação (caso da ocorrência de simples comportamentos colectivos).
    Manuel Braga da Cruz


Perdida a referência à luta de classes na perspectiva marxista, as lutas dos novos movimentos sociais desenvolvem-se em áreas diversificadas: ecologistas, feministas, defensores dos direitos humanos, etc.

Giddens define movimentos sociais como uma tentativa colectiva para promover o interesse comum ou alcançar um objectivo comum, através da acção colectiva fora da esfera das instituições estabelecidas (2001, p. 606) e apresenta a classificação de movimentos sociais de David Aberle:

- movimentos de transformação visam mudanças de grande alcance, cataclísmicas e muitas vezes violentas das sociedades. Exemplos: movimentos revolucionários ou alguns movimentos religiosos radicais;

- movimentos reformadores aspiram alterar algumas das características da ordem social existente. Exemplo: grupos anti-aborto;

- movimentos redentores procuram salvar as pessoas de estilos de vida tidos por corruptos. Exemplo: seitas Pentecostais (protestantes);

- movimentos de alteração procuram promover uma mudança parcial nos indivíduos. Exemplo: Alcoólicos Anónimos.

Os novos movimentos sociais podem ser responsáveis pela realização de acções de contestação à escala global, simultaneamente em vários países (locais) do Mundo, aquilo a que podemos chamar eventos glocais:

Segundo Inês Pereira, MayDay MayDay em toda a parte, De olhos postos em Lisboa – Cimeira Alternativa Europa-Africa e Viajando para a Euopa – o Forum Social Europeu de Atenas, foram os primeiros eventos glocais realizados em Lisboa.

    Segundo Claus Offe, os novos movimentos sociais «partem do facto de que não podem resolver-se, numa perspectiva prometedora e coerente, os conflitos e as contradições da sociedade industrial avançada por meio do estatismo, a regulação política». Eles pretendem, ao contrário, reconstituir «uma sociedade civil que já não depende de uma regulação, controle e intervenção cada vez maiores. Para poder emancipar-se do Estado há que politizar-se a mesma sociedade civil». Tais movimentos «politizam questões que não podem ser facilmente «codificadas» com o código binário do universo de acção social que subjaz à teoria política liberal». Na relação privado-público procuram encontrar uma «terceira categoria intermédia». Necessário será ter presente que «o campo de acção dos novos movimentos sociais é um espaço de política não institucional cuja existência não está prevista nas doutrinas nem na prática da democracia liberal e do Estado de bem-estar». Nestas zonas intersticiais tendem a ser desencadeados movimentos fortemente politizados de acção que, por vezes, se querem não políticos. A emergência, em diversos domínios da sociedade, de novos movimentos sociais tem, por isso, a ver com a crise do Estado-providência, ou Estado social, e com o facto de o movimento operário ter deixado de ser o principal actor colectivo com expressão política.
    (...)

    Os conflitos têm-se transferido progressivamente para o campo da cultura, porque domínio próprio das identidades e do direito à diferença. Está a ocorrer, de facto, nas sociedades ocidentais uma mudança profunda derivada do processo de pós-industrialização em curso, dando origem a outros sistemas de valores estruturantes das consciências e das identidades dos indivíduos e dos grupos. A era dos movimentos laborais parece ter chegado ao seu fim. Os movimentos sociais actuais, criados sobretudo a partir da década de 60, são novos, antes de mais, porque abandonaram os processos operários na sua luta pela mudança da sociedade. Traduzem a passagem da sociedade industrial à sociedade pós-industrial e a passagem das lutas laborais às lutas sociais e culturais. Deixaram, por outro lado, de ser movimentos de uma classe para se tornarem movimentos de classes. Sendo isso verdade, os novos movimentos sociais são essencialmente lutas pela afirmação da identidade ou da qualidade de vida. A transferência do foco conflitual da esfera laborai para a área da cultura, da gestão da sociedade para a sua produção, do controle do presente para a orientação da sua acção histórica, lugares onde se constituem os principais núcleos de antagonismo, origina ou potência, na verdade, novas modalidades de movimentos sociais. Esta conflitualidade tende a despoletar-se e a desenvolver-se com a descontinuidade dos tempos e dos ritmos de mudança nas diversas instituições sociais. A mudança é hoje mais acelerada nas instituições produtoras de conhecimento e detentoras do poder político. Nas zonas intersticiais criadas pela desigualdade de tempos e de ritmos de mudança abrem-se normalmente crises que exigem, em consequência, contínuos reajustamentos. Assiste-se, de facto, actualmente ao ruir de algumas estruturas e ao esboçar de novos sistemas com diferentes regras de jogo, e todo este movimento põe em acção um processo de desestruturação e de reestruturação da sociedade.
    Conflitualidade e movimentos sociais


Os movimentos sociais têm um duplo interesse para a Sociologia. Fornecem matéria para estudos, mas mais do que isso, podem ajudar os sociólogos a determinar as áreas a analisar. Giddens explica que o movimento das mulheres contribuiu para a identificação fraquezas no pensamento sociológico e para o desenvolvimento de conceitos que ajudaram a entender as questões do género e do poder.

1. Explique porque será tão difuso o conceito de movimentos sociais.

2. Apresente novos exemplos de movimentos sociais, integrando-os na classificação de Aberle.

3. Explicite o papel dos novos movimentos sociais na mudança social (designadamente de estilos de vida).

4. Comente a eficácia da acção dos novos movimentos sociais na área do Ambiente.

Recursos

Imagens da degradação dos políticos

A emergência dos weblogs enquanto novos actores sociais

Movimento 12 de Março - Nasceu das manifestações da "geração enrascada"

www.alternativaportugal.org - Princípio 5. A Alternativa Portugal não tem dúvidas ao considerar que o actual sistema partidocrático apresenta gravíssimas limitações e contradições e que por isso não serve os interesses do povo português. A Alternativa Portugal actuará em defesa da sociedade civil face ao monopólio dos partidos e dos seus meios de controlo da opinião pública — sistema eleitoral, meios de comunicação social, predomínio das elites dos partidos políticos, exclusividade da representação política dos partidos nos principais órgãos de decisão e alternância no poder, meios de financiamento partidário, subvenções públicas e distribuição de cargos públicos —, incentivando o aparecimento de novas formas de representação e intervenção política. (...)

www.quercus.pt - Associação Nacional de Conservação da Natureza

Elites e Movimentos Sociais - Apresentação no SCRIBD

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